domingo, 4 de maio de 2014

Velho novo de novo

Poucos param pra pensar no porquê de o antigo ter mais valor. De uma maneira curiosa, as coisas se tornam mais significantes quando ligadas a algum resgaste antigo. Em especial, no comportamento. Salvaram do hippie qualquer coisa que não o antiamericanismo hostil e do punk-anos-oitenta tudo menos a repulsa anarquista. Quanto mais os moicanos. O que se vê são souvenirs dos Ramones. Mas de onde veio a tal atratividade pelo o que é de ontem? Falar em clichê virou senso comum - e clichê. O cunho dos movimentos que estampam as camisetas cult não estão em questão. Mas denota certa bagagem cultural mais significativa ser aquém do que aconteceu antes da própria geração. No fim é tudo questão de status, na maioria dos casos, já que se torna quase consensual (ou melhor, permitido) esbanjar um totem de alguma época sem ter a mais vaga ideia de sua real representação. A permissibilidade dos padrões de comportamento e a liberdade das tribos que se proliferam numa segmentação livre de preconceito - o "faz o que se quer" em termos gerais - cria pseudo-revolucionários num ajuntamento positivo de ideologia falha e um up no nível de cultura. O saldo final até que supera a vergonha de alheia de se deparar com os que vão às ruas lutar contra algo que eles ainda não decidiram. O curioso da história toda é que o desacerto do mundo não para no jeito de agir. A música contempla um baita choque fenomenológico entre faixas hiper-contemporâneas e os que morrem ouvindo Rita Lee a qualquer preço, remando contra a maré não acreditando em nada e duvidando da fé (...)
A presença sutil de um álbum anos setenta em alguém que nem de longe é dos anos setenta dá um tchan na coisa. Mesmo que não se ouça. O vintage é cultuado e ninguém nega. No melê nascem os Hipsters. O termo dá algo a entender, mas em síntese é a convergência dos avessos à modernidade. No vestuário, no jeitão de ser, no estilo, até mesmo em ser avesso. Não gostar é Hipster, muitos falam. Ninguém sabe precisamente quando nasceu, mas teve até certa discrição e agora toma conta de redes sociais, restaurantes japoneses e feiras de antiguidade. Mas há um grande paradoxo no desprezo hipsteriano. Virou um "museu de novidades", onde o icônico eBook, por exemplo, é a cara desses fãs da literatura quanto-mais-velha-melhor.
O que já passou faz bem aos olhos, concluamos então. Esquisito vai ser quando o novo ficar velho e o ciclo tornar a agir. Ou não, vai saber. Na dúvida é só esperar passar da validade pra ficar legal. 

Um comentário:

  1. PALMAS. mas para mim o que realmente acontece nos movimentos não é lutar contra algo que não se sabe, eles sabem o que eles não querem, o problema é não saber o que por no lugar, nada some sem ser substituído, é a lei da física.

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