segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Guia prático do escritor comum

"Afinal, como é que se escreve?"  Essa pergunta é, ou tem sido, recorrente, de certa forma. Pessoas das mais variadas idéias, correntes e boas intenções se arriscam, vez ou outra, às pinceladas, tentando expressar o que querem e o que não podem, de forma não concomitante. Escrever é fácil. O difícil é se fazer entender. Muitos excertos publicados internet afora são muito barrocos ou, quem os escreve, pouco motivado à transmissão da mensagem. O lance da livre licença poético-trash é que qualquer coisa vira sinônimo de ser inteligente. Qualquer amontoado de palavras é poesia, ao que parece. E entre curtidas e recomendações - ruins - de livros - piores ainda - de romance (onde a capa já faz as vezes de spoiler) a vida segue com a fortuita alegria de um ou outro bons escritores que nascem por aí. A escrita livre deu mais liberdade, também, aos que a merecem e sabem usá-la. Mais que gratificante, é quase um alívio premeditado ler uma criança no auge curioso de seus doze ou treze escrever uma bela cantiga sobre uma flor que não desabrochou. Para uma criança, cuja capacidade de síntese é linear e sonhadora, a ideia de uma flor não abrir suas pétalas é quase um fim trágico num filme da Disney. Erro crasso na dialética da vida! Mas, pra elas, um choramingo desiludido acompanhado de uma levantada de ombros; a flor não merece, nem ela nem ninguém. Nesse lapso revelador, na angústia de menina, a quem recorre? À caneta colorida, surrada por letras de forma feitas com força. A força na grafia não é pela raiva, jamais. É pela cruel necessidade de fazer tudo simétrico e impecável. Duas ou três tentativas de iniciar, com rasuras por toda a primeira linha. E em meia dúzia de versos, sai a história mais bem escrita de todos os tempos. Simples, sem palavras no ar e sem verdades distorcidas: sério exemplo a ser seguido. Por mais custoso à menina, que viu seu estoque de boas idéias esvoaçar em vinte e seis palavras, escrever não é difícil. A chave para escrever bem é escrever com alma, todos dizem. Um baita clichê! Mas já rende uma boa escrita...