sábado, 8 de março de 2014

Luta e luto no finíssimo mercado.

À beira da casa dos 30 bilhões, o mercado artístico, em 2013, contempla o que foi o ano de maior prosperidade financeira em torno de seu principal produto - a tal da arte, por menos que pareça. A cúpula de críticos, entendedores e entusiastas do assunto, que compõe também os principais traders de quadros milionários, se torna cada vez mais adepta da pseudo-arte, protagonista das principais galerias e leilões requintados no cerne dos que se autoproclamam resgatantes da boa arte. Aparentemente dúbias, as avaliações acerca das obras responsáveis por levar as cifras da indústria a patamares absurdos, consagram critérios discutíveis e pincelam o rosto novo de Warhols e suas criações contemporânessíssemas. Não fosse só o remoer de corações desacertados e Belle Epoquenanos, a quem diga firmemente que a última sobra do sentido verdadeiramente artístico é surrada a cada acionista interessado em fazer arte de capital. O lance virou business antes mesmo do dito artista - como era de costume- ver-se obsoleto e, depois, ter seu valor reconhecido e suas gêneses como temas de livros e feiras mundo afora. Fato é que essa nova onda martirizadora de fazedores de arte, ironicamente chora a morte de um dos ícones da Nova Onda da sétima arte francesa dos anos 60. O diretor Alain Resnais, soldado de um movimento (esse sim!) aderente da créme de la créme do poetismo francês, morre com quase um século de vida e diversas premiações. Juntamente a outros cineastas da época, Resnais trouxe de volta à tona traços apoderados pela grande guerra. Não só pela censura vinda dos anos cinzas do meio do século, a Nouvelle Vague retratou o inconformismo vindo de um choque entre o novo e o velho em termos de fazer arte. Não só Resnais, Godard ou Truffaut, mas todo o conjunto resistente ao surrupio da guerra era retrato do que seria não só contínuo mas recorrente ao longo do século XX. Entre as pilhas de dinheiro taxadas nas esculturas e a pilhagem do âmago artístico, chorado pelos um pouquinho mais conservadores, o produto é até satisfatório. Entre mortes e lucro nem tudo é luto. Afinal, arte tem sido feita - por menos que pareça.

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