Na biblioteca da Faculdade Livre de Berlim, cujo design em forma
de "cérebro" rendeu diversos prêmios arquitetônicos, é possível
encontrar a nata da literatura brasileira disposta em quatro ou cinco
prateleiras. Do exílio romântico de Casemiro de Abreu - que nunca soara tão
apropriado - aos melismas de Leminski, passando pela inenarrável sensação de
ver o Sertão de Guimarães Rosa em duas outras línguas, tudo ali indicava uma
epifania surrealista, dessas de roteiro de filme trash-cult. Que interessante seria viver
daquilo e largar o coxismo, se embriagando da vida boemia de
um literário mal de grana à margem do mundinho monetarizado e conquistar uma
legião de apaixonados. Essa vontade se explica, até pelo número de divisões feita na
carreira de "letras": Literatura romântica, russa, esquerdista,
analítica, e assim segue. A tendência de se haver uma especialização logo na
graduação, é deveras disseminada na Europa toda. E isso, irremediavelmente, tem
tudo a ver com o fato de que a pesquisa puramente acadêmica é incentivada sem o
dever do empirismo. Isso gera uma liberdade criativa, fortalecida ao passo que
a docência não é o único caminho a ser seguido e tampouco desencorajada. Que
atire a primeira pedra quem nunca ouviu alguém dizer que "não quer morrer
corrigindo prova", "não seja professor nesse país" ou coisa do
gênero. A má remuneração explica mas não justifica. O desencorajamento
tupiniquim de muitos jovens só incentiva o êxodo desses mundão afora... um
baita desperdício de mentes tão promissoras e filhas de um país com literatura
incomparável, seja dito.
Livrescamente falando, um outro fato
curioso é a poetização dos assíduos contribuintes das redes sociais. Ah, as
redes sociais. Duvido que os precursores - desde a época orkut- imaginavam, no mais otimista dos
sonhos, que as proporções seriam essas. Só em 2013 os números beiravam os 50
milhões. Cifras e ações à parte, o lance é que poetas no mundo inteiro nasceram
com a facilidade de se procurar uma frase profunda e barganhar um punhado de curtidas. Esse surto de arrasa-corações não para aí; os escritores de ofício- cujas frases são ingrediente dos galanteios - têm seus nomes postos em versos da autoria de outros, e assim vai. Quem diria ver Lord Byron falando do amor de ninfas. Coisas da literatura... O certo deve ser cérebros em formato de biblioteca, e não o contrário. O prêmio seria geral.
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