terça-feira, 18 de março de 2014

Dançar conforme a letra, poesia curtida e curtir poesia.

Na biblioteca da Faculdade Livre de Berlim, cujo design em forma de "cérebro" rendeu diversos prêmios arquitetônicos, é possível encontrar a nata da literatura brasileira disposta em quatro ou cinco prateleiras. Do exílio romântico de Casemiro de Abreu - que nunca soara tão apropriado - aos melismas de Leminski, passando pela inenarrável sensação de ver o Sertão de Guimarães Rosa em duas outras línguas, tudo ali indicava uma epifania surrealista, dessas de  roteiro de filme trash-cult. Que interessante seria viver daquilo e largar o coxismo, se embriagando da vida boemia de um literário mal de grana à margem do mundinho monetarizado e conquistar uma legião de apaixonados. Essa vontade se explica, até pelo número de divisões feita na carreira de "letras": Literatura romântica, russa, esquerdista, analítica, e assim segue. A tendência de se haver uma especialização logo na graduação, é deveras disseminada na Europa toda. E isso, irremediavelmente, tem tudo a ver com o fato de que a pesquisa puramente acadêmica é incentivada sem o dever do empirismo. Isso gera uma liberdade criativa, fortalecida ao passo que a docência não é o único caminho a ser seguido e tampouco desencorajada. Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu alguém dizer que "não quer morrer corrigindo prova", "não seja professor nesse país" ou coisa do gênero. A má remuneração explica mas não justifica. O desencorajamento tupiniquim de muitos jovens só incentiva o êxodo desses mundão afora... um baita desperdício de mentes tão promissoras e filhas de um país com literatura incomparável, seja dito. 

Livrescamente falando, um outro fato curioso é a poetização dos assíduos contribuintes das redes sociais. Ah, as redes sociais. Duvido que os precursores - desde a época orkut- imaginavam, no mais otimista dos sonhos, que as proporções seriam essas. Só em 2013 os números beiravam os 50 milhões. Cifras e ações à parte, o lance é que poetas no mundo inteiro nasceram com a facilidade de se procurar uma frase profunda e barganhar um punhado de curtidas. Esse surto de arrasa-corações não para aí; os escritores de ofício- cujas frases são ingrediente dos galanteios - têm seus nomes postos em versos da autoria de outros, e assim vai. Quem diria ver Lord Byron falando do amor de ninfas. Coisas da literatura... O certo deve ser cérebros em formato de biblioteca, e não o contrário. O prêmio seria geral. 

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